O limiar da piroseira
Há muito que convivemos com o boato e com o murmúrio. O boato, sobretudo o boato malicioso, é ingrediente imprescindível dos ritos sociais, tal como o são os resultados da última jornada futebolística. O boato é uma consequência menos atraente da vida em sociedade, como o são as garatujas nas paredes dos prédios e as garrafas de cerveja vazias no areal das praias. O boato vive da inveja, da mesquinhez, do desatino e ( por que não admiti-lo) porque não se gosta do visado, ainda que não necessariamente por causa do boato.
O boato geralmente não abandona o seu "habitat" natural, o da pequena lenda urbana, e rapidamente perece. Enquanto assim é, o boato, embora desagradável para o visado, é geralmente inóquo, como pisar numa poia com botas cardadas.
Mas, por vezes, o boato logra transcender-se, por intercessão alheia, e reclama pedestais que o seu parto rasteiro não lhe autoriza. As recentes insinuações a propósito da orientação sexual de alguns candidatos, na boca de outros candidatos, são lamentáveis exemplos do que não deve ser feito. Infelizmente, não é a primeira vez ( alguém ainda se lembra de Sá Carneiro e do "Manifesto Anti-Portas"?). Transformar a arena política em peixeirada ou campo de afirmação de supostas superioridades morais não é eticamente aceitável. Se calhar, necessitamos de novos políticos. Como referia um anónimo norte-americano" Politicians and diapers should both be changed regularly and for the same reason".
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