Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

terça-feira, março 08, 2005

O problema pictórico

Dorian Gray cedeu a alma para satisfação de caprichos da vaidade, transferindo para a tela o envelhecimento que o comum dos mortais sofre na pele. A alma, essa, classicamente ficou entregue às forças do oculto - o funesto desfecho é por demais conhecido, para quem leu as páginas escritas por Oscar Wilde, há mais de um século ( quem ainda as não leu, está sempre a tempo, e olhem que vale a pena...). Vem isto a propósito do inusitado tráfego postal do retrato do Professor Freitas do Amaral, remetido pelo CDS/PP -em aprumado embrulho, espera-se - ao PS. Não sei se os remetentes acreditam no seu íntimo que algo de semelhante, ressalvadas as devidas diferenças, sucedeu, e desejem longe de si as influências malévolas de semelhante objecto, eventualmente objecto de tão mefistofélica transacção.
Confesso que não tenho grande afinidade com o CDS/PP - há certos "tiques" ideológicos em relação aos quais me acho mesmo em rota de colisão. Compreendo que militantes e simpatizantes possam entender o ingresso do fundador e originário líder do partido no executivo de Sócrates como uma afronta, ou mesmo como uma "traição". Até poderia achar como previsível ( e, por certo, condenável) que certos militantes chegassem ao ponto de enviar mensagens inflamadas de reprovação ao antigo líder ou que, à palestiniana, procedessem à imolação pelo fogo de efígies do nóvel ministro. Aos dirigentes, contudo, exige-se-lhes outra seneridade. E outras atitudes.Afirmar, à laia de justificação, que a retirada do retrato teria de ser feita porque "a juventude do partido" não ia compreender que um ministro socialista estivesse, garboso e sorridente, na parede da sede do partido, é considerar a "juventude" inapelavelmente ignorante. Enviar retratos por via postal cheira a Carnaval fora de época. A última campanha eleitoral deu já exemplos suficientes de como não deve ser a actuação dos partidos políticos. Aconselham-se, se se acha que os mesmos devem merecer alguma consideração do "povo anónimo", novas formas de actuação, que não façam lembrar os "colos" e outros dislates semelhantes...