Os novos cordeiros sacrificiais
"When I was a boy I was told that anybody could become President; I'm beginning to believe it"
(Clarence Darrow)
René Girard escreveu um dia que o que de mais essencial havia nas religiões era o ritual, a imolação de uma vítima. Nas religiões não sei, mas na actuação política em Portugal, começa a ser a regra.
(Clarence Darrow)
René Girard escreveu um dia que o que de mais essencial havia nas religiões era o ritual, a imolação de uma vítima. Nas religiões não sei, mas na actuação política em Portugal, começa a ser a regra.
O senhor Presidente veio, por entre as chamas que braseiam o país, indicar os culpados desta encenação terrena do enredo dantesco:os relapsos, somíticos, antipatrióticos proprietários florestais, que não procedem à limpeza das matas. E a solução é simples: multe-se e exproprie-se, a bem da Nação. Esqueceu-se, talvez, o senhor Presidente, neste seu juízo , de ter em consideração outros factores. Desde logo, que se anda há décadas a plantar aquilo que se não devia, com o beneplácito e o apoio do Estado, que foi achando que a "dimensão estratégica" da floresta consistia na monocultura do pinheiro e do eucalipto, este último sobretudo para ulterior transformação em pasta de papel. Assim se logrou, de uma só penada, exaurir os solos, promover a destruição dos ecossistemas preexistentes e promover o desenvolvimento de uma indústria florescente que, entre outras vantagens - e basta ir a Cacia para o comprovar - tem a virtualidade de produzir lixo a rodos e envolver as redondezas num miasma perene, algures entre o repolho fermentado e as célebres "samicas de caganeira" vicentinas. Esqueceu-se também o senhor presidente que as pequenas explorações agrícolas, que serviam a descontinuidade das zonas florestais e atenuavam os riscos de propagação dos fogos desapareceram, sacrificadas no altar do "progresso" e da "especialização" da nossa economia. Esqueceu-se o senhor presidente que o interior está deserto, porque a elite política a que o senhor presidente também pertence apenas se importou com as "capitalidades" de Porto e de Lisboa, às quais foram acorrendo, esperançada ou resignadamente, as populações do interior, fartas de percorreram cinquenta quilómetros para irem ao médico, à escola, ou de cagarem numa sanita ligada directamente aos fundos do quintal. Esqueceu-se o senhor presidente que esses famigerados proprietários pagam impostos os quais, presuntivamente, deveriam ser utilizados para custear as operações de limpeza. Esqueceu-se o senhor presidente que os incêndios devem ser combatidos, presuntivamente com meios próprios e adequados, os quais consabidamente não existem, uma vez que os dinheiros públicos foram vantajosamente empregues na construção de mamarrachos , de autoestradas por onde ninguém passa, e na compra de três belíssimos submarinos. O senhor presidente esquecue-se disto, tudo, e de muito mais. Não se vê o senhor presidente a questionar os responsáveis pela definição da política florestal; não se vê o senhor presidente perguntar por que diabo é que na recente compra de helicópteros para as forças armadas não se aproveitou para dotar o país de meios aéreos próprios para combate a incèncios. Não se ouve um murmúrio do senhor presidente sobre a misteriosa aquisição de um "kit" para combate a incêndios a ser utilizado nos C-130 da FAP, e que presentemente se acha a apodrecer num armazém.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home