Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

domingo, fevereiro 19, 2006

A tolerância

Gosto de ler o "blog" do Luis Grave Rodrigues ( http://rprecision.blogspot.com ), e admiro a coragem e a dedicação com que abraçou a causa da igualdade de direitos, sem dependência da orientação sexual ( embora, no meu modesto parecer, a singela alteração de um artigo no código civil me pareça solução atrapalhada e tendente a provocar mais problemas do que a prover soluções...). Daí que me tenha surpreendido o "post" recente "A Profanação do Cadáver". É sabido que "trasladação" e "profanação" se não confundem ( e não é preciso consultar o "Comentário Conimbricense" para perceber isso), de resto possível tanto para crentes como para não-crentes. Que milhares de pessoas presenciem o acto,"snifem" (!) os miasmas provindos do féretro ou o contemplem, em transe ou não, é indiscutivelmente questão de fé, e problema deles, conquanto não obriguem os demais a fazerem o mesmo. Não percebo como isso possa ofender o próximo, não-crente, ainda que este considere tudo aquilo um disparate. Nem sequer a transmissão televisiva é pretexto - ele há outras coisas para fazer ao Domingo, desde reler Herculano até um despreocupado e banal passeio à beira-mar. A não ser assim, teremos sempre de admitir que os "diferentes" possam impunemente ser chamados de "bichas" ou, mais eruditamente, de "fanchonos", sempre que apareçam à luz do dia, não obstante o problema de apreciar com quem se deitam ser atomisticamente deles, e de mais ninguém. Desconfio sempre das cruzadas e do pensamento único, por mui bem intencionados que sejam...

1 Comments:

  • At 2:48 da manhã, Blogger Luis Grave Rodrigues said…

    Caro João:

    Faz muito bem em desconfiar das cruzadas e dos pensamentos únicos.

    Aposto que se sente tão indignado como eu nestes tempos conturbados, em que se critica um cartunista e a liberdade de expressão que ele exerce, ao mesmo tempo que se mostra complacência por quem lhes faz ameaças de morte e lhes lança "fatwas".

    Salvaguardadas as devidas proporções, leve o meu texto no «Random Precision» como uma espécie de "cartoon".

    E leve-o precisamente como o oposto desse "pensamento único" que critica.

    Porque é tão livre aquele que pratica o culto dos mortos como aquele que critica esse culto.

    Caso contrário, e aí sim, lá cairemos no tal "pensamento único".

    Não será assim?


    Aproveito a oportunidade para lhe agradecer a referência e os comentários elogiosos que me fez e que são, pode crer, extremamente gratificantes.

    Um abraço,

    Luís Grave Rodrigues


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