Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

quarta-feira, agosto 30, 2006

Recorrências

"...Durante os séculos XVI e XVII o auto [ de fé ] era considerado um grande espectáculo público na Península e suas possessões, rivalizando em atracção pública com as touradas..."

Cecil Roth, " História dos Marranos", Livraria Civilização Editora, Porto, 2001, pág. 99


Soube, pela televisão, que um toureiro luso passou à espada um touro, em Barrancos, com direito a assistência, flores de papel e os "olés" rituais. Uma espectadora, bem cevada, expressou o nervosismo que lhe inspirara o holocausto, que presenciara voluntariamente. O nóvel herói, após o cometimento inédito, afirmou, resoluto, que matar touros em solo pátrio é preciso..." Unglücklish ist das Land, das keine Helden hat", escreveu outrora Brecht. Desgraçada da pátria que tem heróis destes, acrescento eu.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Guerra

Tenho evitado escrever sobre o "statu belli" entre o Líbano e Israel. Parece-me demasiado evidente que qualquer país tem o direito de se defender; como evidente me parece que as guerras sem mortes e destruição se acham confinadas aos primórdios dos "arcade games". Como me parecem cretinas as abundantes notícias sobre a "agressão israelita".Assim, resolvi apenas dar notícia, aqui, do interessante depoimento de um médico libanês, Dr. Mounir Herzallah, há alguns anos radicado na Alemanha. O depoimento, li-o na edição "Online" do "Tagesspiegel "( ver o arquivo de 30 de Julho de 2006 em http://www.tagesspiegel.de/politik/archiv/30.07.2006/2660279.asp) - junto, naturalmente, tradução. Cada um que tire as suas conclusões.

"Ich wohnte bis 2002 in einem kleinen Dorf im Süden nahe Mardschajun, das mehrheitlich von Schiiten wie mir bewohnt ist. Nach Israels Verlassen des Libanon dauerte es nicht lange, bis die Hisbollah bei uns und in allen anderen Ortschaften das Sagen hatte. Als erfolgreiche Widerstandskämpfer begrüßt, erschienen sie waffenstarrend und legten auch bei uns Raketenlager in Bunkern an. Die Sozialarbeit der Partei Gottes bestand darin, auf diesen Bunkern eine Schule und ein Wohnhaus zu bauen! Ein lokaler Scheich erklärte mir lachend, dass die Juden in jedem Fall verlieren, entweder weil die Raketen auf sie geschossen werden oder weil sie, wenn sie die Lager angriffen, von der Weltöffentlichkeit verurteilt werden ob der dann zivilen Toten. Die libanesische Bevölkerung interessiert diese Leute überhaupt nicht, sie benutzen sie als Schilder und wenn tot als Propaganda. Solange sie dort existieren, wird es keine Ruhe und Frieden geben. "

"Vivi até 2002 numa pequena aldeia no sul [do Líbano] perto de Mardschajun, onde a maioria da população era xiita, como eu. Depois de Israel abandonar o Líbano, não durou muito até que a "Hisbollah" mandasse, naquele e noutros lugares. Recebidos como vitoriosos combatentes da resistência , apareceram armados até aos dentes e também construíram entre nós bunkers para o armazenamento de foguetes. A obra social do Partido de Deus foi fazer uma escola e uma casa em cima dos bunkers! Um Sheik local explicou-me que, em qualquer caso, eram os judeus quem perdia, fosse porque seriam atacados com os foguetes, fosse porque, ao atacar os armazéns de foguetes, a opinião pública internacional os recriminaria pelo número de civis mortos. Esta gente não se interessa pela população do Líbano. utilizam-na como escudo e, depois de mortos, como propaganda. Enquanto eles [a "Hisbollah"] existirem, não haverá nem tranquilidade nem paz".