Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

quinta-feira, junho 08, 2006

Extremismos

A extrema direita saiu do armário e promove - com o beneplácito dos meios de comunicação social - a sua mensagem essencialmente intolerante, xenófoba e racista. Quer um país irrepreensivelmente branco, os pretos em África, os amarelos na Ásia -e, presumivelmente, os judeus, os árabes, os ciganos, os homossexuais, os paquistaneses que vendem flores, os homens de cabelo comprido e as mulheres de "look " andrógino na fogueira. A extrema direita traja de escuro e calça biqueira de aço. Exibe prazenteiramente as cabeças rapadas e as tatuagens inspiradas na semiótica nazi, e pedaços do arsenal que armazena para uma "Kristallnacht" lusitana, que irá apagar a história, transmutando-nos do país mestiço, dos portugueses de cabelo castanho, num berço e lar de casta pura. A extrema direita diverte-se a gritar impropérios nas claques de futebol, a pintar suásticas nas paredes e a esmurrar-se mutuamente em bailes mais ou menos interditos, ao compasso acelerado do "hate metal". De quando em vez, em matilha, resolve também espancar algum hirsuto que se lhe atravesse no caminho, nas rondas nocturnas ou à porta dos estádios. Nos estados civilizados, a intolerância não deve ser tolerada, pelo que urge a intervenção do Estado, dissolvendo e interditando as organizações que cultivam tal intolerância. Ora, sucede que o Estado parece mais interessado em promover a sua própria via da intolerância, pela via do anti-tabagismo militante. Quer-nos a todos mais saudáveis, impolutos, proibindo a todos o acto de fumar, remetido à categoria de comportamento inapelavelmente desviante. Tal como a extrema-direita, o Estado sonha com a sua nação monolítica, a sua raça uniforme, superior e sem vícios, em que a liberdade seja definitivamente proscrita.

sexta-feira, junho 02, 2006

Ad malum malae res plurimae se agglutinant

A frase que serve de título é de Plauto, e serve de mote ao triste estado a que chegou o ensino em Portugal.
Por intermédio de Fernando de Mascarenhas ( homem do ensino e da cultura, que aproveito para saudar) , recebi notícia de petição destinada a "salvar" o ensino das línguas clássicas em Portugal, que aproveito para divulgar ( www.petitiononline.com/classici/petition.html).
O panorama do ensino de línguas clássicas é, de resto, hoje ainda mais confrangedor do que era nos meus tempos de liceu, quando tentei, sem sucesso, ter aulas de grego(valeu-nos a perseverança de um velho mestre, que ainda aceitou dar aulas a meia dúzia de "aventureiros" que haviam decidido escolher latim, em vez da mais "mediática" psicologia).
A liberdade de aprender, e de aprender para a vida, acha-se definitivamente comprometida, quando o estudo das raízes deixa de ser importante, e se pretende aplicar a todos o "pronto a vestir" da informática, do "choque tecnológico"e do idioma estrangeiro único . Num país cada vez mais marcado pelo analfabetismo funcional, em que a história é difusamente encarada como um devir obsoleto e bafiento, convenientemente encerrado em alfarrábios que poucos lêem, arriscamo-nos, cada vez mais, à formação de gerações amnésicas do seu passado, alheadas do seu presente e desinteressadas do seu futuro.