Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Tudo o que é bom acaba

O David Carvalhão (http://aminhavidadavaumfilmeindiano.blogspot.com) regressou a Portugal, pelos vistos. Lá se vai o "Blog". Bem, foi bom ( foi muito bom) enquanto durou. David, quando curares a ressaca, vê se procuras ofertas de emprego no Irão, Síria...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Desalentos e "Lanceros"

É oficial:Cuba acaba de aderir ao "politicamente correcto" - não, os partidos políticos não foram legalizados, nem foi garantido o direito de livre associação, nem restabelecida a propriedade privada dos "meios de produção". Por razões de saúde pública, Fidel proibiu o fumo em locais públicos. Num país que tira grande parte do seu sustento da indústria do tabaco, isso é ou idiotia ou hipocrisia patológica.
Tenho pena por Cuba. Parte da idiossincrasia daquela sociedade simultaneamente espartilhada e geneticamente desalinhada, vivia dos pequenos pecadilhos que a nazificação higiénica incinerou noutras partes do mundo. Os charutos, o rum, a tradição musical irreverente marcavam o "modus vivendi" de uma sociedade que havia escolhido a sua própria " via ". Eram ilhéus de liberdade num sistema consabidamente repressivo. Eram atestados de genuinidade que conseguiam calar a monotonia do folclore ideológico, dos intermináveis discursos do "caudillo", das parangonas gigantes que apelavam à construção do socialismo, das efígies repetidas "ad nauseam" do Che, de Camilo e de outros santos improváveis de uma hagiologia marxista.
Guillermo Cabrera Infante deixou-nos recentemente, entre o nevoeiro londrino e não junto ao "malecón", como certamente gostaria, entre outras névoas, feitas de "puros" volatilizados, de brisa marinha e de calores tropicais. Numa das suas obras ( tenho uma maltratada tradução brasileira, que dá pelo nome "Fumaça pura", algures ), o escritor traçou com rara maestria as linhas essenciais da história do tabaco cubano. A certa altura, e comentando a decisão de Fidel de abandonar o fumo por conselho médico, dizia o escritor, que vou citando de memória:" ...como se um cancro quisesse evitar outro cancro". Umdos cancros venceu, e continua lá. Com estranhas mutações, que somam às paranóias habituais os maneirismos histriónicos de certos integrismos "made in USA".

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

À má fila

Foram hoje publicadas as polémicas alterações ao Código da Estrada ( Decreto-Lei nº 44/2005) . Posso estar enganado, mas aquando da demissão do governo, acho que ouvi o Sr. Presidente da República dizer algo sobre estar "atento" ao que um governo diminuído na sua legitimidade iria fazer...
Entre outras medidas "democráticas", a nova versão do CE permite a apreensão de documentos, em caso de não pagamento imediato da coima. Antes de que seja possível sequer esboçar qualquer tentativa de defesa. A presidência da república acha isto pacífico e normal, tanto que referendou o diploma. Tenho fundadas dúvidas de que este seja um país sério.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A "virada"

Diz-se por aí que o país "virou à esquerda". Nem tanto. Não o fez nem sequer na ressaca de quarenta anos de poder autoritário, não obstante as "ameaças". O país sobretudo, lamentou-se. Lamentou-se das trapalhadas, da estagnação, da ausência de perspectivas. Decidiu que estava na hora de mudar de vida.Mas o país deixou, também, um aviso a quem aí vem : não há mais desculpas para o fracasso. Daí a maioria. Mas o país deixou claro que ou o "sistema" passa a funcionar, ou, da próxima, as soluções podem vir de fora do "sistema" - é isso mesmo que demonstram os resultados do BE, da CDU e de pequenos partidos como o PNR.

Bilhostre?

Durão Barroso( alias, Zé Manel) veio a Portugal votar, no Domingo passado. Apressado e frenético. Esperavam-no em Londres, ao que parece. À saída da secção de voto, fez uma curta declaração à imprensa autóctone em inglês . No mesmo dia, pronunciou-se igualmente sobre o referendo espanhol. Como, desta feita, se dirigia ( pensa-se) a "nuestros hermanos", discorreu em castelhano. O português, pelos vistos, é que anda algo esquecido. Já não é de agora. As nossas elites há muito que aderiram ao "bon chic" de falarem estrangeiro:

"..É pasmar ver, senhor, como um pascácio
de francês com dois dedos, se abalança,
perante os homens doutos e sisudos,
a falar nas ciências mais profundas,
sem que lhe escape a santa teologia,
alta ciência aos claustros reservada.».

( António Dinis da Cruz e Silva, "O Hissope")

Lamentável.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Como eu te compreendo!

pode ler-se no http://politicamente.blogs.sapo.pt/
" nunca vi campanhas tão mal dirigidas. ninguem diz nada de jeito. vou ficar em casa ou vou la no domingo e voto em todos"

A náusea

Há um candidato a deputado que insiste em lembrar-me que, afinal, ele existe mesmo. A minha caixa de correio é ciclicamente invadida por panfletos em que o garbo mancebo assegura ser responsável pelo "enterramento" da linha de comboio em Espinho ( eu prefiro chamar-lhe inumação de parte da alma da cidade); por profusa obra assistencial; por uma imensidade de trabalhos de que não me lembro agora, mas de que o meu caixote do lixo há-de guardar lembrança. Desconheço por enquanto se a chegada à lua e as aparições de Fátima se devem também à labuta de tão esforçado moço.
O viso da mesma personagem aparece igualmente multiplicado pela cidade, em cartazes de variadas dimensões. Um espaço envidraçado acha-se repleto de retratos do indivíduo, a meio da bandeiras, balões e outros adereços.
A imprensa local alarda a gesta heróica deste Hércules, pelos vistos também vareiro. Parece que elaborou um sonolento relatório (ou, pelo menos, leu-o) de uma obscura sub comissão parlamentar.
O candidato aparenta ser caucasiano. Ignoro, para já, que mais o distingue de Kim Jong-Il. Espera-se que muito. À cautela, não voto nele.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

portagens e psicadelismo

O DL 39/2005 veio trazer uma "benesse" aos automobilistas. Passam a beneficiar da tarifa de portagem da classe 1 os veículos com altura,medida à vertical do primeiro eixo do veículo, igual ou superior a 1,1 m e inferior a 1,3 m, desde que não apresentem tracção às quatro rodas permanente ou inserível e desde que tais veículos sejam veículos ligeiros de passageiros e mistos, tal como definidos no Código da Estrada, com dois eixos, peso bruto superior a 2300 kg e inferior ou igual a 3500 kg e com lotação igual ou superior a cinco lugares. Simples, não é?
Sempre achei que o bizarro critério da altura "medida à vertical do primeiro eixo do veículo" era tão bom quanto o critério da cor do carro, do tamanho do cinzeiro, ou do diâmetro do tubo de escape- deve ter sido inventado por algum nostálgico dos anos sessenta, em plena "trip" de LSD. Pelos vistos, a cosmovisão do legislador persiste, digamos, alternativa (ou psicadélica)- isso mesmo reflecte-se no preâmbulo, onde se afirma , à guisa de justificação para a medida " Impõe-se ainda promover uma aproximação progressiva do quadro normativo nacional ao panorama europeu...". Na Europa que eu conheço, há países ( como a Alemanha), onde não há portagens; noutros, o critério para a diferenciação das portagens costuma ser o do peso do veículo, pelo presuntivo maior desgaste que veículos de maior peso imprimem aos pisos. Ninguém anda a medir a altura "à vertical do primeiro eixo". Na Europa "de lá" ( ao contrário da "Europa de Cá") o legislador é sóbrio e assisado

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

o cartão

De forma recorrente, vou sendo aliciado para me inscrever num partido. Tenho recusado. Não porque o partido em causa ( ou os partidos em geral) me causem assim tanta repugnância ( abro uma excepção para o BE e para o partido nacionalista renovador, ou lá como se chama ). Sobretudo, porque não tenho tempo. E estou numa fase da vida avessa a categorizações. Que não, respondem-me, que isso não toma muito tempo. O que se pede é que se vá votar, uma vez por ano, para os órgãos partidários. Algo me diz que, cumprido o religioso dever, alguém haveria d epensar por mim....

Democracia cibernética

Li um post interessante no http://politicaMente.blogs.sapo.pt/. Rezava assim:
"isto dos blogues tem piada. quando resolvi fazer o meu, decidi não ver nenhum para tentar escrever o que me apetece. o engraçado é que alguns amigos tiveram em alturas diferentes a mesma ideia. mais engraçado ainda é que cheguei a conclusão que todos devem ter pensado como eu. nunca fui de visitar blogs. agora não faço outra coisa. parece que isto dos blogues é um clube privado que ninguem fala até ter um. depois de ter começado o meu recebo emails a dizer ja viste aquele, e o outro etc,,,....". Convém esclarecer que o "dono" do blog é meu amigo de longa data.

Pois é. Suspeito que este "pensamento comum" resulta do facto do famoso "défice democrático"- o qual, numa das suas matizes, significa que temos de ter um boletim partidário para nos fazermos ouvir. Na "blogosfera" não é assim. Ainda bem.

O "Aviz" já há algum tempo que não tem "posts"

Ó Sr. Francisco José Viegas, veja lá se tem tempo para actualizar o blog, sim? Eu sei que não tem obrigação de o fazer, mas os leitores agradecem.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Tolerância à mata-frades

Descobri a existência de um "Blog de esquerda"(http://bde.weblog.com.pt/). Suponho que tenha a ver com personalidades ligadas ao Bloco de Esquerda. Num"post" recente, pode ler-se "...E como pode um liberal "respeitar Fátima"? Fátima é o maior tumor iliberal do país! Gente que se humilha pelo chão e crê que subornando uma divindade conseguirá melhorar a sua condição. Gente que não acredita na sua autonomia, nas suas capacidades, na sua liberdade de pensar e de agir, mas se julga vigiada julgada a cada segundo e prefere abandonar-se a uma entidade superior, não se atrevendo a contrariá-la ou questioná-la com receio de represálias, e preferindo sabujar-se aos pés dela a troco de favores e benesses."

Quanto a tolerância e a liberdade, estamos falados. Os "falcões das avenidas" já têm com quem repartir tarefas, quando a novas categorias de hirsutos.

o discurso do frigorífico

Francisco Louçã falou hoje numa esquerda "fria" e numa outra "gelada". Fiquei sem saber em qual delas se enquadrava o BE. Suspeito que na gelada - afinal de contas, é bem sabido que para o caviar, nada melhor do que vodka gelada.

Sol lucet omnibus?

Veio hoje a público notícia, segundo a qual Pina Moura teria emitido " .... um despacho que alegadamente dava aos clubes com dívidas ao fisco a possibilidade de alinharem nas competições profissionais de futebol."( http://www.tsf.pt/online/desporto/interior.asp?id_artigo=TSF158842) . Não arranjo forma de compatibilizar isto com o artigo 13º da CRP. Lembro-me apenas do "Animal Farm" ( não, não se trata da versão inglesa da "Quinta das Celebridades")...

Redde Caesari quae sunt Caesaris...

Eu sei que o brocardo é velho, velhíssimo de séculos - talves por isso, seja necessário relembrá-lo, aqui e ali. Tem a invisibilidade das pequenas rotinas, dos pormenores que, por evidentes e omnipresentes, acabam por tornar-se matizes desfocadas de uma memória colectiva.

D. Manuel Martins e D. Januário Gomes vieram a público condenar a suspensão das actividades de campanha pelo PSD e pelo CDS,a propósito do falecimento da irmã Lúcia. Os dois dignitários, pelos vistos, falaram em "oportunismo político" (http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF158827). Eu não sei se foi oportunismo político. Talvez seja. Talvez não. No fundo, é um juízo que cabe a cada um, católico ou não, mas sempre eleitor, fazer. Como cabe a eleitor ( católico ou não) saber se vai votar ou não no partido "A" ou "B", apesar de este defender a legalização do aborto, as uniões homossexuais, o preservativo ou o cachorro-quente ao almoço na Sexta-feira Santa. A escolha é política, e não religiosa. É para a coisa pública, e não para a "res" católica.Não calha bem que sejam os senhores bispos a fazê-lo ( nem o padre Lereno). Não consta que lhes tenha sido passada procuração para o efeito.

A nova política fiscal

Circula por aí a notícia de um novo imposto(http://politicamente.blogs.sapo.pt/) - meus caros, não lhes dêem ideias...

domingo, fevereiro 13, 2005

A nova "marca " portuguesa

Segundo tenho ouvido a alguns dos "gurus" do pensamento económico português, o futebol é uma das "marcas" portuguesas de maior potencialidade. Notei isso precisamente nas declarações de hoje de Gilberto Madaíl, quanto à vontade de pagar dívidas fiscais. Já tinha notado o mesmo em declarações recentes de Pinto da Costa sobre a mesma matéria, onde se falava em retretes e em potes para satisfação de necessidades fisiológicas- seguramente, há por aí muito gnu no lugar de guru...

(Re)lembranças

No pandemónio dos meus armários, descobri um volume de Baudelaire, que julgava há muito perdido. Reli-o. Não me sai da memória um pequeno trecho de um poema:

"Ma jeunesse ne fut qu'un ténébreux orage
Traversé çà et là par de brillants soleils»

Felizmente, os sóis não se perdem. Quando menos se espera, reencontram-se. Aquecem-nos a alma, por muito distantes que os saibamos.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

O meu Lebensraum

Marques Mendes "y sus muchachos" andaram hoje por Espinho, nas habituais passeatas à cata do voto. Espero que as ruas tenham ficado limpas. Um dos inconvenientes das campanahs eleitorais é o "merchandising" espalhado na calçada .

À noite, é a vez da CDU, com direito a bandeiras vermelhas, Jerónimo de Sousa e matrioscas falantes. Esperam-se laudas a Marx e a outros ideólogos mais ou menos barbudos. Eu só espero que acabe cedo.

Hilariante, viciante - melhor que os Monty Python

Não percam as peripécias de um português chamado David, algures na Arábia Saudita... a realidade, às vezes, supera a imaginação mais delirante.

http://aminhavidadavaumfilmeindiano.blogspot.com/

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

(In)segurança rodoviária

Quem vier na VCI, no sentido Freixo-Arrábida, há-de reparar, a certo momento, num enorme cartaz que convida ao conhecimento do novo código da estrada. Está lá, colocado há já algum tempo ( tanto que até os mais distraídos, como eu, já o toparam...). No mesmo cartaz, existe um URL extenso, em caracter substancialmente mais pequeno que o remanescente do anúncio. Quem o quiser ler na íntegra corre o risco da abalroar o veículo da frente ( a não ser que, à boa maneira portuguesa, encoste o carro na berma e vá ver de perto).
Como é bom de ver, ainda não existe novo código. O estranho "happening", foi já objecto de notícia, a DGV sabe da sua existência e os autores estão identificados ( http://www.portugaldiario.iol.pt/noticias/noticia.php?id=491888). Presume-se que a polícia também já saiba.
O "velho" código impõe no artigo 5º, nº 3 que "Não podem ser colocados nas vias públicas ou nas suas proximidades quadros, painéis, anúncios, cartazes, focos luminosos, inscrições ou outros meios de publicidade que..... ou ainda perturbar a atenção do condutor, prejudicando a segurança da condução". E acrescenta, no nº 4 , para além da responsabilidade contraordenacional, que as autoridades competentes poderão mandar retirar tais meios publicitários. Pergunta-se o que as a"autoridades competentes" andarão a fazer....

Toca o hino!

Macário Correia ( aquele indivíduo dos cinzeiros lambidos) decidiu abrir concurso para um hino do Algarve. Já há propostas ( http://pantanero.blogs.sapo.pt/arquivo/442381.html). O estribilho, esse, será da autoria de Macário, intercruzando as influências linguísticas mais marcantes da região:

"don't smoke, aqui ao mê lado/
don't, qu'ê fico marafado"

Jorge Amado errou; o país do Carnaval ( durante o ano inteiro) é mesmo o luso torrão.

Tomates

Alberto João Jardim veio dizer o que pensava sobre a alegada "crença" de Cavaco Silva numa maioria absoluta do PS ( http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1215261) . Só lhe fica bem. Goste ou não se goste de Jardim, tem de se concordar que ele, pelo menos, diz o que pensa e não sofre do síndroma do catavento - já são algumas virtudes, infelizmente não compartilhadas por muitos do mesmo "métier"...

PS - por muito que isso me desgoste, sou forçado a concordar com Pinto da Costa, quando disse que Jardim daria um bom presidente da república

Sobre o "apoio" de Freitas do Amaral ao PS

( igualmente aplicável ao hipotético apoio do referenciado ao BE, ao PSD, ao PCP, ao PND...)

" ...Todos compreendem como é digno de encómios um príncipe quando cumpre a sua palavra e vive com integridade e não com astúcia. No entanto, a experiência de nossos dias mostra haverem realizado grandes coisas os príncipes que, pouco caso fazendo da palavra dada e sabendo com astúcia iludir os homens, acabaram triunfando dos que tinham por norma de proceder [com] a lealdade..."

( a citação é de Niccolò Machiavelli, pois de quem mais haveria de ser?)

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Hatikvah

É a transliteração do vocábulo hebraico para "esperança". Sharon e Abbas selaram com um aperto de mão o início do fim da violência . Eu sei que é Carnaval, mas quero acreditar que, desta vez, é mesmo para levar a sério. Quero acreditar, como Sharon disse no seu discurso, que " não se permitirá que a violência assassine a esperança".
Lembrei-me de um pequeno poema, feito para outras efervescências, mas que assenta aqui perfeitamente, como as primeiras chuvas sobre a terra sôfrega e mirrada pelo Estio.

"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo "

(Sophia de Mello Breyner Andresen)



segunda-feira, fevereiro 07, 2005

O venerando disparate

Um sacerdote católico apelou aos "portugueses [ para que ]não votem em partidos defensores do aborto, eutanásia e direitos dos homossexuais"( veja-se em http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF158630) . A notícia chegou-me em segunda ou terceira mão. Não percebi se o apelo era feito apenas aos católicos, aos católicos que assistiam à homilia, ou à generalidade dos portugueses. À primeira vista, trata-se apenas de extrair as necessárias consequências da (irredutível) doutrina da igreja católica, quanto a esses aspectos. No entanto, o Sr. padre parece ter olvidado que nem todos os portugueses são católicos; e que mesmo aqueles que o são podem achar por bem manter uma distinção entre leis dos homens e leis do divino. Pela minha parte, acho que esta distinção é de manter. Caso contrário, qualquer dia adquire foros de lei a interdição da venda de preservativos ( mesmo a não crentes libertinos, há muito condenados ao fogo eterno) ou da degustação de presunto durante a Quaresma.

O Sr. padre que atormente a alma do seu rebanho com as penas do Inferno e com a excumunhão, em caso de aborto, eutanásia, sodomia, onanismo, sexo antes do casamento e outros casos "fracturantes", caso o deseje - daí não vem mal ao mundo. Mas deixe a sotaina fora da cadeira do legislador.

A não esquecer

Aristides Sousa Mendes morreu a 3 de Abril de 1954. As últimas comemorações foram discretas, como convém a um país onde a reverência e a memória vai toda para craques de futebol, respectiva "entourage" e para uma nova categoria de seres, designada genericamente por "famosos", cujo grande mérito parece ser a ausência de vida privada.

Com a rara coragem dos justos, Sousa Mendes, cônsul em Bordéus durante a II Guerra Mundial, conseguiu salvar da matança milhares de judeus, atribuindo-lhes vistos portugueses. A paga, foi a perseguição implacável pelo então "salvador da pátria" ( o messianismo português é desgraçadamente pobre: ou nos saem arruaceiros loucos, ou subprodutos de sacristia), a expulsão da carreira diplomática, a miséria e a morte precoce.

Uma pungente nota biográfica pode ser encontrada em http://www.vidaslusofonas.pt/sousa_mendes.htm. Para ler e divulgar. Afinal, ainda há feitos heróicos de que nos podemos orgulhar. Portugal não é só bola e "reality shows".

Já agora, se puderem - mandem uma mensagem ao Sr. Presidente da República, a ver se intercede pela recuperação da Casa do Passal ( antiga residência de Sousa Mendes) e sua transformação num museu. A decência do país agradece.

In cauda venenum

"Fumar puede matar


COLGUEMOS POR LOS PIES LA DEMOCRACIA
HAGAMOS UN ALTAR CON SU EXCREMENTO
CANTEMOS LA CANCIÓN DEL SIN SENTIDO
VOLVAMOS AL GLORIOSO MOVIMIENTO

GRITEMOS A LA SANGRE Y A LA PATRIA
QUE SUENEN LOS CLARINES DE HOJALATA
SEMBREMOS DE MINAS LA PACIENCIA
MARCHEMOS A MORIR COMO QUIEN MATA

DEJEMOS LA MORAL EN LA COCINA
SEAMOS EL VERDUGO DEL HERMANO
QUITEMOS LA RAZÓN AL QUE RAZONA
BAILEMOS LA CANCIÓN DEL ESPOSO SOLDADO

DEJEMOS QUE EL DINERO NOS GOBIERNE
QUE VIVA EL CAPITAL SIN CARLOS MARX
CAMBIEMOS EL COCIDO POR MC DONNALD
Y PROHIBAMOS LA LIBERTAD SINDICAL

CANTEMOS ALABANZAS AL TERROR
DE QUIEN INVADE, MASACRA Y ASESINA
EN EL PUNTO DE MIRA ESTÁ EL AMOR
TERRORISMO CIEGO, SIN SALIDA

HAGAMOS BORRÓN Y CUENTA NUEVA
OLVIDEMOS LOS DERECHOS CONQUISTADOS
DESUNAMOS LAS NACIONES QUE NOS UNEN
DESANDEMOS LOS CAMINOS DEL PASADO

CLONEMOS IDIOTAS CON DINERO
DESTRIPEMOS AL VECINO SIN PIEDAD
COMPREMOS ARMAS, PERO NO FUMEMOS
PORQUE FUMAR PUEDE MATAR"


Luis Pastor (compositor, poeta e cantor espanhol)

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O limiar da piroseira

Há muito que convivemos com o boato e com o murmúrio. O boato, sobretudo o boato malicioso, é ingrediente imprescindível dos ritos sociais, tal como o são os resultados da última jornada futebolística. O boato é uma consequência menos atraente da vida em sociedade, como o são as garatujas nas paredes dos prédios e as garrafas de cerveja vazias no areal das praias. O boato vive da inveja, da mesquinhez, do desatino e ( por que não admiti-lo) porque não se gosta do visado, ainda que não necessariamente por causa do boato.
O boato geralmente não abandona o seu "habitat" natural, o da pequena lenda urbana, e rapidamente perece. Enquanto assim é, o boato, embora desagradável para o visado, é geralmente inóquo, como pisar numa poia com botas cardadas.
Mas, por vezes, o boato logra transcender-se, por intercessão alheia, e reclama pedestais que o seu parto rasteiro não lhe autoriza. As recentes insinuações a propósito da orientação sexual de alguns candidatos, na boca de outros candidatos, são lamentáveis exemplos do que não deve ser feito. Infelizmente, não é a primeira vez ( alguém ainda se lembra de Sá Carneiro e do "Manifesto Anti-Portas"?). Transformar a arena política em peixeirada ou campo de afirmação de supostas superioridades morais não é eticamente aceitável. Se calhar, necessitamos de novos políticos. Como referia um anónimo norte-americano" Politicians and diapers should both be changed regularly and for the same reason".