Nosocómio da alma

" L'absurdité est surtout le divorce de l'homme et du monde" Albert Camus, L'Étranger

terça-feira, novembro 28, 2006

Barros Basto

A ler, na "rua da judiaria"

quarta-feira, novembro 15, 2006

Direitos Humanos

A comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados publicou, no pretérito dia treze, um comunicado/acusação, a propósito do conflito israelo-árabe ( o qual, para quem sabe história, é, sobretudo, árabe-israelita...). Porque pertenço a tal agremiação, senti-me na obrigação de remeter ao Senhor Bastonário em exercício um responso, que abaixo transcrevo. Obviamente, não espero resposta, eu que não apareço nos telejornais...
"
Exmo Senhor Bastonário,

Li - e não acreditei - o comunicado supra identificado, no portal da Ordem. O líbelo acusatório ali plasmado é indigno de uma apreciação isenta e imparcial.
A morte de civis é, obviamente, condenável- mas, gostaria de saber por onde andava a comissão de Direitos Humanos, enquanto dezenas de "mártires" se faziam explodir em restaurantes, em discotecas, dentro de autocarros, à porta de escolas; será que tais actos já serão, por intercessão de normas que ao bom senso repugnam, justificáveis? O bombardeamento indiscriminado e constante de cidades e aldeias, com recurso a projécteis dotados de nula precisão ( os famosos "Qassam"), já se integra nas "regras de arte" de algum conflito? A utilização de uma retórica xenófoba e racista para designar Israel, é aceite ao abrigo do "relativismo cultural"? Os esforços de uma Estado teocrático e anti-semita para se dotar de armamento nuclear, com o proclamado fito de eliminar a "entidade sionista", merecem da Comissão nada mais do que um esclarecedor silêncio, já que tal facto -ao contrário do novelístico vôo rasante- em nada contribui para turbar a paz mundial? A negação da existência do Holocausto por um senhor com uma imbirração patente pelas máquinas de barbear já não suscita indignações? Sitiar embaixadas e queimar bandeiras por causa de meia dúzia de desenhos patentes numa publicação de tiragem ridícula é uma forma adequada de exprimir o desagrado?
Caro Colega , Senhor Bastonário; vivemos num país onde as sementes do ódio e do preconceito prosperaram, por séculos e séculos - delas brotaram as fogueiras da inquisição, os ímpios "relaxados" pelos condutores espirituais ao braço secular, deportações suicidas para Cabo Verde e São Tomé, listas de sangue que durante dois séculos marcavam a diferença entre ter-se nascido para padecer num inferno sem fuga e a vida, o comércio negreiro, os autos-de-fé enquanto espectáculo que concorria em popularidade com as touradas ( de touradas, infelizmente, continuamos servidos, em sentido próprio e figurado). Tal parcialismo redentor, que colocava os justos de um lado, e os impuros na fogueira parece, infelizmente, reaparecer, de tempos a tempos, para desventura de todos.

Com os melhores cumprimentos,

O Colega, ao dispôr,

João C. Coelho de Lima
CP 6486P"

Meu caro "anonymous"

O último "post" que aqui coloquei despertou algumas mágoas - que há uma Espanha vanguardista e moderna, que há espanhóis que falam línguas estrangeiras, que a Espanha faz a "enveja" de outros países.
Ora, começando pelo início: o "post" não tinha por intenção demonizar a Espanha, nem os espanhóis. O "post" teve como pretexto duas sondagens recentes e - sobretudo - a tal sondagem que dava conta que 28% dos portugueses desejariam ser espanhóis. O que, a partir daí se fez, foi uma interrogação irónica, com o traço grosso da caricatura -obviamente- sobre os motivos que levariam tantos a quererem tal coisa. De resto, se leu até ao fim, a ironia acaba após o " e agora, para algo completamente diferente", onde se identificam pequenas e grandes coisas, de alguma e de somenos importância, que poderão ter influenciado o sentido da resposta de tantos-algumas das quais teriam, certamente, influenciado a minha resposta, acaso ela fosse assim tão simples, acaso alguém me tivesse perguntado.
Não apresento desculpas pela caricatura- tenho a certeza que, da mesma, se rirão muitos, portugueses e espanhóis. Essa capacidade de rirmos de nós próprios, e dos outros, desenvolve o sentido crítico, é uma forma de exorcismo de fantasmas, de nos reconhecermos nas nossas pequenas peculiaridades, até de nos sabermos diferentes dos outros. De resto, gosto bastante de Espanha, dos romances de Torrente Ballester, de Montalbán, de Cela, de Molina; tenho uma predilecção pela sidra asturiana e pelo "bacalao al pil-pil"; continuo a ouvir "Los ilegales" e Loquillo ; esforcei-me por aprender castelhano, no qual me vou conseguindo expressar sem sucumbir à tentação do "portunhol"; gosto de viajar para destinos estranhos, como Luarca ou Caños de Meca, e apesar de tudo não se sentir desenquadrado. Não tenho,pois, qualquer "visão obscurantista" de Espanha. Que fique claro.