Extremismos
A extrema direita saiu do armário e promove - com o beneplácito dos meios de comunicação social - a sua mensagem essencialmente intolerante, xenófoba e racista. Quer um país irrepreensivelmente branco, os pretos em África, os amarelos na Ásia -e, presumivelmente, os judeus, os árabes, os ciganos, os homossexuais, os paquistaneses que vendem flores, os homens de cabelo comprido e as mulheres de "look " andrógino na fogueira. A extrema direita traja de escuro e calça biqueira de aço. Exibe prazenteiramente as cabeças rapadas e as tatuagens inspiradas na semiótica nazi, e pedaços do arsenal que armazena para uma "Kristallnacht" lusitana, que irá apagar a história, transmutando-nos do país mestiço, dos portugueses de cabelo castanho, num berço e lar de casta pura. A extrema direita diverte-se a gritar impropérios nas claques de futebol, a pintar suásticas nas paredes e a esmurrar-se mutuamente em bailes mais ou menos interditos, ao compasso acelerado do "hate metal". De quando em vez, em matilha, resolve também espancar algum hirsuto que se lhe atravesse no caminho, nas rondas nocturnas ou à porta dos estádios. Nos estados civilizados, a intolerância não deve ser tolerada, pelo que urge a intervenção do Estado, dissolvendo e interditando as organizações que cultivam tal intolerância. Ora, sucede que o Estado parece mais interessado em promover a sua própria via da intolerância, pela via do anti-tabagismo militante. Quer-nos a todos mais saudáveis, impolutos, proibindo a todos o acto de fumar, remetido à categoria de comportamento inapelavelmente desviante. Tal como a extrema-direita, o Estado sonha com a sua nação monolítica, a sua raça uniforme, superior e sem vícios, em que a liberdade seja definitivamente proscrita.