segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Mea culpa
Em "post" anterior, comentei o "Post" " Profanação do cadáver" do Luis Grave Rodrigues, no "Random Precision". Devo admitir que errei. O Luis - ou qualquer outra pessoa, crente ou não-crente - tem inteiro direito de não gostar de trasladações, e de o dizer. Fica feita a correcção
Exemplar
o "post" "Os cartoons: nove notas ", do Pedro Mexia( http://estadocivil.blogspot.com/). Está lá tudo. Estou a pensar em mandar uma cópia para o Ministro dos Negócios Estrangeiros.
domingo, fevereiro 19, 2006
A tolerância
Gosto de ler o "blog" do Luis Grave Rodrigues ( http://rprecision.blogspot.com ), e admiro a coragem e a dedicação com que abraçou a causa da igualdade de direitos, sem dependência da orientação sexual ( embora, no meu modesto parecer, a singela alteração de um artigo no código civil me pareça solução atrapalhada e tendente a provocar mais problemas do que a prover soluções...). Daí que me tenha surpreendido o "post" recente "A Profanação do Cadáver". É sabido que "trasladação" e "profanação" se não confundem ( e não é preciso consultar o "Comentário Conimbricense" para perceber isso), de resto possível tanto para crentes como para não-crentes. Que milhares de pessoas presenciem o acto,"snifem" (!) os miasmas provindos do féretro ou o contemplem, em transe ou não, é indiscutivelmente questão de fé, e problema deles, conquanto não obriguem os demais a fazerem o mesmo. Não percebo como isso possa ofender o próximo, não-crente, ainda que este considere tudo aquilo um disparate. Nem sequer a transmissão televisiva é pretexto - ele há outras coisas para fazer ao Domingo, desde reler Herculano até um despreocupado e banal passeio à beira-mar. A não ser assim, teremos sempre de admitir que os "diferentes" possam impunemente ser chamados de "bichas" ou, mais eruditamente, de "fanchonos", sempre que apareçam à luz do dia, não obstante o problema de apreciar com quem se deitam ser atomisticamente deles, e de mais ninguém. Desconfio sempre das cruzadas e do pensamento único, por mui bem intencionados que sejam...
livros perdidos
Quando tinha onze, doze anos, descobri os romances de aventuras de Emílio Salgari, que em muito contribuíram para que a leitura se tivesse tornado um dos meus grandes prazeres. Comecei então a vasculhar livraria após livraria, em busca de mais e mais títulos. Em vão. Tentei contactar as duas editoras que publicavam as obras de Emílio Salgari em Portugal. Também em vão. Consegui, após muita perseverança, comprar uma trintena de obras do autor, parte substancial dos quais em alfarrabistas, recendendo a mofo e com ar de uma existência sofrida, como suportes de móveis partidos. Para minha sorte, à data existiam ainda as bibliotecas Gulbenkian, e na de Espinho, consegui ainda localizar um razoável acervo de obras.
Passados todos estes anos, continuo com pouca sorte nas minhas obsessões literárias. Num país onde já quase não se lê, as edições ( tirando a literatura "light" e o Saramago que, por razões diversas, não me agradam) são exíguas e desaparecem rapidamente. Assim, em jeito de manifesto, deixo aqui patente alguns dos meus "desejos" literários(limitei-me a autores portugueses) - pode ser que algum editor me leia, e decida proceder a uma reedição.
"Regresso por um rio" - Francisco José Viegas
"Um céu demasiado azul" - Francisco José Viegas
"O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor" - Luiz Pacheco
" A comunidade" - Luiz Pacheco
Passados todos estes anos, continuo com pouca sorte nas minhas obsessões literárias. Num país onde já quase não se lê, as edições ( tirando a literatura "light" e o Saramago que, por razões diversas, não me agradam) são exíguas e desaparecem rapidamente. Assim, em jeito de manifesto, deixo aqui patente alguns dos meus "desejos" literários(limitei-me a autores portugueses) - pode ser que algum editor me leia, e decida proceder a uma reedição.
"Regresso por um rio" - Francisco José Viegas
"Um céu demasiado azul" - Francisco José Viegas
"O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor" - Luiz Pacheco
" A comunidade" - Luiz Pacheco
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Gado bravo
Conta-se por aí que um aluno de Direito terá , um dia, respondido num exame que as leis vêm "em manada"da Assembleia da República. Ignora-se o que lhe aconteceu - Mas, nesta era da sociedade da informação, não me surpreendia nada que se viesse a descobrir que o mesmo é hoje insigne jurista, assessor num qualquer ministério ou de um qualquer grupo parlamentar, e responsável pela elaboração de projectos de diplomas legislativos.
Da primeira vez que ouvi a história, achei-lhe imensa piada - hoje acho menos, talvez por me ter convencido que, no inapropriado exprimir, havia alguma verdade metaforicamente dissimulada. Com efeito, a produção legislativa tem, bem vistas as coisas, matizes de manada. De manada dócil e obediente, no momento da votação, em homenagem à "disciplina partidária", que cala consciências em nome de um "bem maior"; de tropel desenfreado, errático e destrutivo, das leis feitas à pressa e anunciadas como a última versão da banha da cobra para erradicação de todas as maleitas sociais. Ora, segundo notícia fresca (http://tsf.sapo.pt/online/economia/interior.asp?id_artigo=TSF168299), prepara-se o governo para aumentar para o dobro a taxa do IMI , sobre casas que não ultrapassem um determinado consumo de água e luz. A fórmula mágica permitirá colocar "no mercado" uma infinidade de casas, para cumprimento do salutar direito à habitação própria, e evitar a "desertificação"(!) de Lisboa, Porto e outras centralidades. Porque, como é público e notório, a escassa quantidade de casas disponíveis para venda ou arrendamento são disputadas à dentada por uma turba de potenciais compradores ou arrendatários endinheirados; porque, como se sabe, em Portugal nunca se licenciou às cegas a construção intensiva de mamarrachos que pressopunham, para ocupação total, uma nova explosão demográfica; porque, como é dogma indesmentível, Porto e Lisboa estão às moscas, preferindo a população deslocalizar-se para o interior e viver em cavernas, onde a vida é mais ecológica, sem estradas, hospitais,escolas ou saneamento. Porque, como é ponto assente, por todo esse imenso Portugal há água canalizada nos sítios mais remotos, que permita a pidesca operação de controlo; porque no centro de Lisboa e do Porto há verdadeiros condomínios de luxo, em irrepreensível estado de conservação e com todas as comodidades, devolutos...A solução é deveras imaginativa -e, como se sabe, a imaginação, à semelhança da estupidez, não tem limites . Infelizmente, para todos nós, está também frequentemente pejada, de forma que são de esperar para breve novos partos
Da primeira vez que ouvi a história, achei-lhe imensa piada - hoje acho menos, talvez por me ter convencido que, no inapropriado exprimir, havia alguma verdade metaforicamente dissimulada. Com efeito, a produção legislativa tem, bem vistas as coisas, matizes de manada. De manada dócil e obediente, no momento da votação, em homenagem à "disciplina partidária", que cala consciências em nome de um "bem maior"; de tropel desenfreado, errático e destrutivo, das leis feitas à pressa e anunciadas como a última versão da banha da cobra para erradicação de todas as maleitas sociais. Ora, segundo notícia fresca (http://tsf.sapo.pt/online/economia/interior.asp?id_artigo=TSF168299), prepara-se o governo para aumentar para o dobro a taxa do IMI , sobre casas que não ultrapassem um determinado consumo de água e luz. A fórmula mágica permitirá colocar "no mercado" uma infinidade de casas, para cumprimento do salutar direito à habitação própria, e evitar a "desertificação"(!) de Lisboa, Porto e outras centralidades. Porque, como é público e notório, a escassa quantidade de casas disponíveis para venda ou arrendamento são disputadas à dentada por uma turba de potenciais compradores ou arrendatários endinheirados; porque, como se sabe, em Portugal nunca se licenciou às cegas a construção intensiva de mamarrachos que pressopunham, para ocupação total, uma nova explosão demográfica; porque, como é dogma indesmentível, Porto e Lisboa estão às moscas, preferindo a população deslocalizar-se para o interior e viver em cavernas, onde a vida é mais ecológica, sem estradas, hospitais,escolas ou saneamento. Porque, como é ponto assente, por todo esse imenso Portugal há água canalizada nos sítios mais remotos, que permita a pidesca operação de controlo; porque no centro de Lisboa e do Porto há verdadeiros condomínios de luxo, em irrepreensível estado de conservação e com todas as comodidades, devolutos...A solução é deveras imaginativa -e, como se sabe, a imaginação, à semelhança da estupidez, não tem limites . Infelizmente, para todos nós, está também frequentemente pejada, de forma que são de esperar para breve novos partos
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
poesias
Soneto del vino
En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
conjunción de los astros, en qué secreto día
que el mármol no ha salvado, surgió la valerosa
y singular idea de inventar la alegría?
Con otoños de oro la inventaron. El vino
fluye rojo a lo largo de las generaciones
como el río del tiempo y en el arduo camino
nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
exalta la alegría o mitiga el espanto
y el ditirambo nuevo que este día le canto
otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enséñame el arte de ver mi propia historia
como si ésta ya fuera ceniza en la memoria.
En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
conjunción de los astros, en qué secreto día
que el mármol no ha salvado, surgió la valerosa
y singular idea de inventar la alegría?
Con otoños de oro la inventaron. El vino
fluye rojo a lo largo de las generaciones
como el río del tiempo y en el arduo camino
nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
exalta la alegría o mitiga el espanto
y el ditirambo nuevo que este día le canto
otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enséñame el arte de ver mi propia historia
como si ésta ya fuera ceniza en la memoria.
Jorge Luis Borges
liberdade de expressão enquanto conceito essencialmente escatológico
Legitimando o "direito à indignação" (ou será à incineração de bens alheios?) do mundo muçulmano, assim acabava um "brilhante" texto de um "opinion maker", no site da "european arab league" (o link dá acesso ao texto completo):
"...I am for the absolute freedom of speech everywhere, and that’s why I call upon every free sole among Arabs to use the Danish flag as a substitute for toilet paper. To illustrate every wall with graffiti making fun of everything Europe holds as holy: dancing rabbis on the carcasses of Palestinian children, hoax gas-chambers built in Hollywood in 1946 with Steven Spielberg’s approval stamp, and Aids spreading fagots. Let us defend the absolute freedom of speech altogether, wouldn’t that be a noble cause?"
Lindo, não é?
"...I am for the absolute freedom of speech everywhere, and that’s why I call upon every free sole among Arabs to use the Danish flag as a substitute for toilet paper. To illustrate every wall with graffiti making fun of everything Europe holds as holy: dancing rabbis on the carcasses of Palestinian children, hoax gas-chambers built in Hollywood in 1946 with Steven Spielberg’s approval stamp, and Aids spreading fagots. Let us defend the absolute freedom of speech altogether, wouldn’t that be a noble cause?"
Lindo, não é?
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
O óbvio
Freitas do Amaral não deixa de nos surpreender . Após a nota informativa, com tiques de sessão de catequese, sobre os "cartoons" da discórdia, veio agora, em reacção às declarações do embaixador iraniano em Lisboa, colocar no mesmo plano o massacre sistemático de milhões de pessoas, e as peculiares concepções de alguns fanáticos sobre a intangibilidade do respectivo profeta. Que ambas as coisas não são comparáveis, é óbvio - como óbvia deveria ser a reacção do governo português: guia de marcha para o senhor embaixador, ao abrigo do artigo 9º da Convenção de Viena para as Relações Diplomáticas ...