sábado, abril 22, 2006
A 19 de Abril de 1943, um punhado de judeus munidos de pouco mais do que coragem atacaram as forças alemãs que circulavam no gueto de Varsóvia. Desta vez, infelizmente, David não derrotou Golias, e a revolta, reprimida a ferro e fogo, terminaria pouco depois. Para um primeiro contacto com esta parcela tantas vezes esquecida da história, , fica aqui recomendada a leitura do romance de Leon Uris, "Mila 18" ( publicação da Europa-América, se bem me lembro)
quinta-feira, abril 20, 2006
Persistência da memória
Também acendi uma vela, trémula e solitária na nevoenta madrugada do Norte. Não o fiz para chorar mortos que não conheci. Precisava apenas de não me esquecer.Eu, tão judeu quanto qualquer outro goy, necessito da memória -ela que fique em fundo, à enganadora distância que separa a civilidade da urbe da insanidade da turba. Lá de longe, daquele promontório catalão onde terá padecido algum "xueta", divisa-se o enxameante percurso de talvez-feras, talvez-homens, numerosos como formigas, que implacavelmente retalham a carne e a alma dos danados. Pouco importa que, pelo meio, jazam os despojos esvaziados do tempo já exaurido-continua visível o festim insano, daquele dia em que a realidade deixou de fazer sentido.
quarta-feira, abril 19, 2006
Os mártires I
Lobo Xavier, na "Quadratura do Círculo", fez uma descrição pungente da precária situação dos deputados : auferem vencimentos miseráveis , encontram-se, a cada fim de mandato, numa situação angustiante, sem saber o que lhes reserva o futuro;para mais, têm de enfrentar agora esta ominosa mania do controlo sobre a sua produtividade, na sequência da (periódica ) constatação de que parte deles nem sequer "pica o ponto". Segundo o ilustre comentador, qualquer dia, só sobram mesmo para deputados os funcionários públicos, entendidos (sic) "num sentido amplo, abrangendo os professores". Fica assim sugerido que há uma casta - funcionários públicos lato sensu ( onde se incluem, segundo tão insigne mestre, os professores) que, mercê da vida desafogada e sem preocupações que tem, pode conjecturar o risco de se submeter a sufrágio e, durante quatro anos ( se a casa não vier abaixo entretanto...), auferir um salário de miséria, ir à manicure durante o horário de expediente, ou alargar qa seu bel-prazer o defeso próprio de épocas festivas. Longe vai o tempo em que a vergonha importava
terça-feira, abril 18, 2006
Acrescentos e lembranças
Acrescentei um "link" para um novo "Blog", o "massacre de 1506". Para quem não sabe- até porque geralmente não aparece nos manuais escolares - cumpre-se a 19 de Abril o 500º aniversário sobre a matança indiscriminada de judeus, marranos ( e outros que possivelmente o não seriam) na Lisboa quinhentista. Os nossos "brandos costumes" também são feitos dessa matéria, convém lembrá-lo, de quando em vez...
domingo, abril 16, 2006
PPD ( proselitismo pago pelo destinatário)
Em época de siglas, lembrei-me da presente, a propósito de mais uma das alterações da grelha de canais que a TV Cabo, à má fila, veio impôr a todos os seus clientes. Desde 1 de Abril que o canal GNT foi substituído pela TV RECORD. Com a habitual consideração que tem pelos seus clientes - escudada no confortável monopólio que detém -a TV Cabo não me informou atempadamente, não me perguntou se eu estava de acordo com a alteração nem sequer me perguntou ( o que seria ao mínimo) se, perante a alteração ao contratualizado inicialmente , eu pretendia -ou não -manter o serviço .
Tal desconsideração por deveres de conduta básicos já seria, por si, suficientemente criticável. Lamntável foi, outrossim, a substituição de uma programação variada e com qualidade, por uma monotonia e pobreza de conteúdos.No antigo canal (leia-se GNT) a progrmação era diversificada, e habituara-me a ver programas de qualidade , onde destaco o "Manhattan Connection" e o "Programa do Jô".O "novo" canal é uma sucessão de transmissões diferidas de futebol, telenovelas de enredo duvidoso e -sobretudo - prédicas religiosas de pastores da IURD, que passaram a dispôr de sinal televisivo por mim pago para anunciarem a "~podridão dos ossos", a omnipresença camuflada do Demo , e outras morbidades similares.
A minha primeira reacção foi considerar a atitude da TV Cabo como inqualificável. Refletindo melhor, a mesma merece classificação, a "inventada" por Miguel Esteves Cardoso na sua "Escrítica Pop", no início dos anos oitenta: numa escala ascendente de imundície, a TV Cabo merece classificação máxima - um balde de merda.
quinta-feira, abril 13, 2006
Será desta?
Afinal, parece que nem todos os responsáveis políticos deste país andam amnésicos. Dois ilustres deputados (Emídio Guerreiro e Carlos Marnoto) subscreveram ( e presume-se que entregaram) recentemente um requerimento na Assembleia da República, solicitando informações sobre a recuperação da "Casa do Passal", em Cabanas de Viriato ( antiga residência de Aristides de Sousa Mendes, entretanto classificada como monumento nacional). Espera-se apenas que a resposta venha mais célebre do que a reabilitação de Aristides.
sábado, abril 08, 2006
De Spe
Um belíssimo poema que descobri recentemente
"Ein Yahav
A night drive to Ein Yahav in the Arava Desert,
a drive in the rain. Yes, in the rain.
There I met people who grow date palms,
there I saw tamarisk trees and risk trees,
there I saw hope barbed as barbed wire.
And I said to myself: That's true, hope needs to be
like barbed wire to keep out despair,
hope must be a mine field."
Yehuda Amichai
sexta-feira, abril 07, 2006
Nazismo higiénico
Na senda da voragem proibicionista norte-americana, que já contaminou a Irlanda e a Espanha, o governo português ameaçou hoje a sua intenção de tornar os fumadores em proscritos, a não ser que decidam dedicar-se ao eremitério ou à navegação solitária em bote descoberto. A justificação relembra o paternalismo hipócrita das penas de fogo da inquisição: trata-se, não de perseguir alguém, mas de proteger a saúde dos "fumadores passivos". Estas criaturas (entre as quais, conforme os dias, me incluo) são uma amálgama de seres definhantes, inapelavelmente estropiadas pelo ominoso fumo do tabaco alheio, mas paradoxalmente imunes à salsugem acre que os belíssimos autocarros e camionetas que formam a espinha dorsal do sistema público de transportes generosamente lançam na atmosfera. Tais seres demonstram igualmente uma acentuada resistência aos bacilos perigosos que procriam alegremente nas atulhadas e pouco limpas salas de espera do SNS.
Em tempos, a humanidade dividia-se em "fumadores " e em "não fumadores". Com o advento da era nazi, um senhor chamado Fritz Lickint - que, entre outras coisas, afirmava que o café provocava cancro - inventou o termo "Passiv Raucher" (o que, em idioma menos farpado e mais familiar, significa precisamente "fumador passivo"). Nesse "Brave New World" que foi o III Reich, foram adoptadas uma série de medidas destinadas à proscrição do vício e à promoção da virtude - a idade legal para compra do tabaco foi elevada para os 25 anos; foi proibida a publicidade ao tabaco; foi imposta a interdição de fumar em espaços públicos, como bares e restaurantes. Como se sabe, os esforços desse progressista governo para proteger os cidadãos "puros" dos "Untermenschen" envolveu também a proscrição destes últimos, e subsequente transmutação dos mesmos em fumo e cinzas...
Mais de sessenta anos volvidos, o governo português decide recuperar parte desse património cívico, e dar-lhe forma de lei - Sieg Heil!